Qualquer morador
ou turista em passagem pela cidade de Cantagalo se encanta com imponência das
palmeiras imperiais em Praça João XXIII, também conhecida como Jardim de
Cantagalo. Sendo assim, muitos se perguntam por que a árvore símbolo da cidade
não é uma palmeira imperial, mas o cambucá, uma árvore pouco conhecida.
Responder
a este questionamento é simples. Em primeiro lugar, pesa a favor do cambucá o
fato dele ser uma árvore nativa de Mata Atlântica, ou seja, habitante de longa
data destas terras, ao passo que a palmeira imperial é uma árvore exótica,
originária das Antilhas, introduzida no Brasil pela Corte de D. João VI.
Mas o
principal motivo de ser o cambucá árvore símbolo de Cantagalo, reside na
relação histórica, impregnada de simbolismo, entre a cidade e a Reserva dos
Cambucás. Nos primeiros anos do século XX Cantagalo sofreu um surto de febre
amarela e grande parte da população foi dizimada. Algumas famílias, detentoras
de mais posses, abandonaram suas casas na cidade buscando cidades onde pudessem
ficar a salvo da doença. Foi um período de grande sofrimento coletivo que
formou uma cicatriz na história da cidade.
Para
que a cidade pudesse reerguer-se e as famílias pudessem retornar aos seus
lares, o poder público da época tomou uma série de medidas de saneamento,
seguindo os modelos propostos pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz na cidade do
Rio de Janeiro. Entre as medidas adotadas estava a captação e canalização da
água – abundante e de boa qualidade – da Bacia dos Cambucás, para ser
distribuída para toda população. As obras ficaram prontas em 1904 e a água da
Bacia dos Cambucás foi utilizada pela população até a década de 60, quando a
água passou a ser fornecida pela CEDAE. Além da captação da água da Bacia para
garantir o consumo de água de boa qualidade, foi construído um sistema de dique
no córrego São Pedro (que corta a cidade), na altura da atual rua Maria Zulmira
Torres, a fim de controlar o volume de água no mesmo, evitando a formação de
poças que favoreceriam a proliferação do mosquito transmissor do vírus causador
da moléstia.
Desta
forma, a simbologia do cambucá está associada à resistência e recuperação da
cidade em determinado período histórico marcado pelo sofrimento da população.
Apesar do registro da ocorrência endêmica do cambucá no município, a relação do
cambucá com a historia local foi determinante para que ele fosse adotado como
árvore símbolo da cidade.
Fabiana Figueira
Corrêa
Coordenadora do
Projeto Cambucás
Colégio Euclides
da Cunha – Cantagalo, RJ